segunda-feira, 24 de maio de 2010

Manifesto Acadêmico do Serviço Social Uni9

Partindo das diretrizes CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO e Código de Ética Profissional da resolução CFESS n.273, de 13 de março de 1993, a qual um dos princípios fundamentais é o “(...) compromisso com o constante aprimoramento intelectual” e do CNE/CES 492/2001 homologado das diretrizes curriculares nacionais para o curso de Serviço Social.
Manifestamos em nome dos estudantes de Serviço Social da Uninove, a qual nos incluímos, na luta pela garantia do tripé que contempla uma Universidade, o Ensino, Pesquisa e Extensão. Problematizando o sistema de avaliação EAD/AVA como querem chamar agora, e uma postura contraria a Mercantilização do Ensino, no viés de que nossa profissão trabalha com os reflexos da questão social e o EAD/AVA não consegue contemplar tais reflexos como ferramenta de ensino. Solicitamos núcleos de pesquisas para alunos e professores que possuem interesse de produzir conhecimento e oficinas com temáticas sobre nosso curso, lembrando que a Universidade não tem nenhum núcleo de pesquisa relacionado ao Serviço Social. Criticamos e não aceitamos a ausência de equipamento de fácil acesso e de obrigação da Universidade como, Data Show, TV e DVD entre outros, e que professores e alunos sentem-se obrigados a adquirir ou trazer para realização de aulas, sabemos que não falta capital para Universidade e os equipamentos que existem e devido há uma burocratização dificulta a disponibilidade dos mesmos. A ausência de livros continua sendo uma deficiência, principalmente obras relacionadas a expressões da questão social, solicitamos a presença de publicações da Revista Serviço Social e Sociedade em nossas bibliotecas, considerada como referência em nossa profissão. Outra questão recente em nosso curso é o Projeto Integrador, um projeto cuja idéia central dentro do curso é interessante, mas possui falhas que comprometem o desenvolvimento e qualidade final dos trabalhos apresentados.
Uma das modificações ocorrida no curso foi o sistema de avaliação que passou de quatro avaliações semestrais para duas, mas somente para algumas turmas e campi, somos a favor desta mudança para todos, nós alunos e professores com duas avaliações poderemos ter mais tempo para trabalhar com conteúdo das disciplinas.
Temos ciência de outros problemas e deficiências que ocorrem dentro de todos os campi na Uninove e que engloba todos os cursos, um deles é a falta de funcionários na área de limpeza e que gera falta de higienização e manutenção dos banheiros entre outros espaços da Universidade frequentado por alunos e funcionários. Mas queremos por meio deste manifesto não só torná-lo instrumento de expressão, mas um início contínuo de luta legítima por nossos direitos e uma formação de qualidade. Assim como nós alunos da Uninove neste momento enfrentamos dificuldades em nosso ensino, outros alunos de Serviço Social na mesma situação se solidarizam conosco na mesma causa e como movimento estudantil somos um só nesta luta.
Estudantes de Serviço Social, Uni-vos!!!

Atenciosamente,
Secretários de Escola Uninove na ENESSO.

sábado, 15 de maio de 2010




Muito prazer, sou uma
Assistente Social.
Há várias perspectivas a partir das quais a temática do projeto ético-político profissional pode ser abordada. 
Como sou assistente social há várias décadas, é com esta profissão que venho atravessando a vida e construindo a minha história. Com ela realmente me construí, pois é uma profissão que traz muitos desafios, mas traz também muito retorno. Assim como os ferroviários ingleses responderam ao historiador Edward Thompson (1948, p. 36), quando perguntados sobre a árdua tarefa de construir ferrovias: “nós construímos a ferrovia, mas ela também nos construiu”, posso, com convicção, afirmar que contribuí muito para a construção do Serviço Social, mas ele também me construiu. Profissionalmente, como assistentes sociais, somos colocados muito próximos daquilo que é essencial na nossa vida, que é a possibilidade da construção coletiva e da intervenção no próprio tecido social.
Somos profissionais que chegamos o mais próximo possível da vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. Poucas profissões conseguem chegar tão perto deste limite como nós. É, portanto, uma profissão que nos dá uma dimensão de realidade muito grande e que nos abre a possibilidade de construir e reconstruir identidades – a da profissão e a nossa – em um movimento contínuo.
Como pesquisadora deste campo temático da identidade, em suas relações com a história, a cultura e os processos sociais, em geral, quero ancorar minhas reflexões nas questões da identidade profissional que permeiam a construção do projeto ético-político do Serviço Social.
Somos uma profissão com mais de cem anos no mundo e, tomando por referência a criação da primeira Escola de Serviço Social em 1936, em São Paulo, estamos completando setenta anos de Serviço Social no Brasil. Trata-se, sem dúvida, de uma trajetória longa, fecunda, profundamente identificada com a construção do campo dos direitos sociais no Brasil, porém preocupa-me constatar que algumas vezes estamos construindo identidades pela negatividade, visualizando-se o Serviço Social como uma profissão que atende a tudo aquilo que não é específico das demais profissões sociais.
É muito importante que possamos construir identidades pela positividade. Identidades pedem reconhecimento, reciprocidade, são construções coletivas. Não há como construir identidades de modo solitário e ninguém constrói identidade no espelho, pois ela é construída no cenário público, na vida cotidiana, juntamente com os movimentos sociais, com as pessoas com as quais trabalhamos.
Creio que um primeiro movimento que o trabalho com a identidade me ensinou, foi exatamente o de recuperar a centralidade do humano, de reconhecer os sujeitos sociais com os quais atuamos como legítimos construtores da prática social. Nós não construímos sós a nossa prática profissional4, o fazemos de modo inclusivo com todas estas pessoas, sejam elas crianças, adultos, anciãos, o morador de rua, pois não há ser humano sem história, assim como não há identidade sem escuta.
É fundamental que reconheçamos a importância de nossa profissão ao abrir espaços de escuta para estes sujeitos que, muitas vezes, nem, sequer são alcançados por outras profissões. Com freqüência somos nós, assistentes sociais, os interlocutores deste segmento que praticamente já não mais interessa a quase ninguém. Homens de rua não votam, imigrantes estão sem trabalho, anciãos não são produtivos sob o ponto de vista do mercado, enfim este é o segmento pensado por muitos como uma população sobrante, sem inserção no mercado de trabalho.
Em uma sociedade, como a nossa, que se organiza por esta lógica de mercado, as pessoas são importantes enquanto são produtivas e quando não produzem, é como se já não fossem nem sequer seres humanos. É impressionante constatarmos como o econômico invade as relações sociais e como certas práticas retiram cidadania dos sujeitos, fragilizando a sua já frágil condição humana. Não dialogam com os sujeitos em sua plenitude, desconsideram a sua consciência política, reduzindo o campo de intervenção do Serviço Social ao mero atendimento pontual da solicitação das pessoas. Nosso ato profissional é muito mais pleno do que o atendimento imediato da solicitação. Certamente, vamos prestar o atendimento, mas tendo até mesmo a coragem em alguns momentos de recolher aquele gesto espontâneo da resposta imediata.
A nobreza de nosso ato profissional está em acolher aquela pessoa por inteiro, em conhecer a sua história, em saber como chegou a esta situação e como é possível construir com ela formas de superação deste quadro. Se reduzirmos a nossa prática a uma resposta urgente a uma questão premente, retiramos dela toda sua grandeza, pois deixamos de considerar, neste sujeito, a sua dignidade humana.
Em um belo texto, intitulado “O narrador”, o filósofo Walter Benjamim (1994, p. 220 - 221), refletindo sobre o alcance das práticas humano-sociais, nos diz que é preciso construir práticas que nos permitam unir “a mão e o gesto, a voz e a palavra”, ou seja, que tenham inteireza, que se façam a partir da centralidade do humano.
É assim que temos de pensar em nossa profissão: uma profissão que através de sua intervenção na realidade, de sua interlocução com os movimentos sociais, com os setores organizados da sociedade civil, participa da reconstrução do próprio tecido social.
A partir das práticas que realizamos, dos processos políticos dos quais somos protagonistas como profissionais e como cidadãos, participamos sim da construção de uma nova sociedade.
Que tenhamos, portanto, a firmeza de declarar “muito prazer,sou um assistente social”.

Maria Lúcia Martinelli

Fonte: http://www.uepg.br/emancipacao/pdfs/revista%206/Artigo%201.pdf